Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº: 518 - Ano : 2005 - p. 350
por Leonardo Boff
Em síntese: L. Boff julga que no futuro haverá na Igreja certo descaso pela causa dos pobres. E propõe o relativismo referente à Igreja; mais importante do que ela seria a humanidade ou a realização de um mundo justo. A fé, a esperança e a caridade viriam depois na escala dos valores; posteriormente se colocaria a Igreja como comunidade dos que crêem. Ora este modo de ver não é cristão; o cristão, antes do mais, assume um olhar de fé, que o leva a aderir a Jesus Cristo e à sua Igreja (inseparável de Cristo). É a partir da fé que ele considera este mundo, e não o considera com menos zelo do que L. Boff; a fé não aliena, mas motiva o cristão a ser um bom profissional e eficiente construtor do Reino de Deus através do sacramento da Igreja. De resto dizia São Cipriano de Cartago (+ 258): "Não pode ter Deus por Pai no céu quem não tem a Igreja por Mãe na Terra".
No JORNAL DO BRASIL de 21/04/05, Leonardo Boff publicou o artigo intitulado "Aos órfãos da Igreja", artigo que professa uma cosmovisão não cristã sob o verniz de Cristianismo. A seguir, será analisado esse escrito.
O conteúdo do artigo
L. Boff julga que, para o futuro próximo, a Igreja deixará de se interessar pela causa dos pobres, que assim ficarão órfãos. A fim de os consolar, propõe uma escala de valores que relativiza a Igreja e dá prioridade à Humanidade; o cidadão deveria, antes do mais, importar-se com a realização da justiça neste mundo - o que equivaleria a construir o Reino de Deus; a fé e a Igreja seria instâncias posteriores, de menos importância. Eis os seus dizeres textuais:
"Como consolar os órfãos da Igreja e pedir que regressem ao seu seio? Creio que a primeira tarefa do atual Papa é realizar este gesto de magnanimidade. E eu, por minha parte, diria: o primeiro a se fazer é relativizar as coisas, por mais que Bento XVI tenha horror a este palavra. A começar pela Igreja. Mais importante que ela é a humanidade e o Reino de Deus. O reino é a utopia de Jesus de um mundo que tem um fim bom aonde os ideais de todos os revolucionários vão se concretizar: a justiça e direito para todos e a vida sem fim, o verdadeiro lar e a pátria da identidade humana, com Deus. Estão dentro do Reino, primeiro, os pobres e seus aliados, todos que têm sensibilidade pelos que padecem fome, sede, estão nus e encarcerados. Depois vêm à fé, a esperança e o amor, virtudes que cada ser humano pode cultivar e é o que, na verdade, o salva. E só então vem a comunidade dos que crêem em Jesus, aquilo que chamamos Igreja. Esta se institucionaliza, mas ela não consegue conter o Ressuscitado e o Espírito que agora têm dimensões cósmicas e a todos tocam, respeitando seus caminhos próprios. Aqui não há órfãos. Todos somos da Casa de Deus. Depois de sabermos disso não há por que sentirmo-nos tristes, exilados e órfãos".
Refletindo...
L. Boff propõe a seguinte escala de valores:
1) A Humanidade estruturada segundo a justiça - o que (segundo ele) vem a ser o Reino de Deus.
2) Dentro do Reino de Deus, os pobres e seus aliados, que militam com os pobres,
3) A fé, a esperança e o amor em geral.
4) A Igreja como comunidade dos que crêem ou "aquilo que chamamos Igreja".
A propósito note-se:
a) A cosmovisão apontada por L. Boff é secularista; pretende construir um Reino de Deus onde o nome de Deus é apagado como propõem os teólogos da libertação.
Alguns destes tendo visitado Cuba há alguns anos, voltaram dizendo que naquele país o Reino de Deus já começou, pois lá o Governo marxista se interessa por escolas e hospitais para o povo, embora a Religião lá esteja amordaçada. A fé é relativizada de modo que quem morre na luta de classes, embora seja não católico, é considerado mártir ao lado dos que morrem em testemunho da fé católica. Ser crente e fiel à Igreja seria menos importante do que ser lutador em prol na nova ordem social. - Tais idéias, aliás, já foram explanadas por Leonardo e Clodovil Boff em seu livro "Teologia da Libertação"; cf. PR 271/1983, p. 453ss.
b) A cosmovisão cristã é frontalmente diversa. Começa com a fé em Cristo e na sua Igreja (dele inseparável). O cristão é elevado à filiação divina e sente-se neste mundo como um peregrino do Absoluto; ele considera este mundo em função do Além. Esta intuição porém, não o aliena, mas antes o motiva para ser um profissional competente e eficaz construtor do Reino de Deus. O cristão, ao lidar com os valores deste mundo, não joga apenas com o seu nome, mas também com o de Cristo; daí o empenho do discípulo de Cristo por uma atuação eficiente e construtiva nos diversos setores da vida católica, como ensina o Concílio do Vaticano II:
"38. Cada leigo individualmente deve ser, perante o mundo, testemunha da ressurreição e da vida do Senhor Jesus e sinal do Deus vivo. Todos juntos, cada um na medida de suas possibilidades, devem alimentar o mundo com frutos espirituais (cf. Gl 5, 22) e nele infundir o espírito que é próprio dos pobres, dos mansos e dos pacíficos, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (cf. Mt 5, 3-9). Numa palavra: "o que é a alma para o corpo, sejam os cristãos para o mundo" (Lúmen Gentium).
É preciso que os leigos assumam, como função própria, a renovação [instaurationem] da ordem temporal e nela trabalhem retamente e decididamente, guiados pela luz do Evangelho, segundo o pensamento da Igreja e movidos pela caridade cristã; enquanto cidadãos, cooperem com os [outros] cidadãos, com sua competência específica e responsabilidade procurem sempre e em todas as coisas a justiça do Reino de Deus (cf. Mt 6, 33; Lc 12, 31). De tal modo deve ser instaurada a ordem temporal que, respeitadas integralmente suas leis próprias, ela se conforme aos mais altos princípios da vida cristã, de modo adaptado às diferentes condições de lugares, tempos e povos. Entre as atividades deste apostolado destaca-se a ação social dos cristãos, que o sagrado Concílio deseja que hoje se estenda a todos os domínios temporais, inclusive à cultura" (Apostolicam Actuositatem nº 2).
c) A Igreja não é o clube dos que lutam por uma ordem social tida como justa e, eventualmente, têm fé, mas é o Corpo de Cristo prolongado ou o sacramento no qual e do qual o cristão vive. Muito sabiamente dizia São Cipriano de Cartago (+ 258): "Não pode ter Deus por Pai no céu quem não tem a Igreja por Mãe na Terra". Ter fé e ser cristão não é uma dimensão acidental do seu humano, mas é dignificação de tudo o que é humano.
Possa L. Boff repensar suas atitudes e voltar às suas origens cristãs e franciscanas !
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